Endocrinologista chama atenção para Projeto de Lei que flexibiliza uso de agrotóxicos
Certos tipos de recipientes plásticos, cosméticos e outros produtos que fazem parte da nossa rotina podem conter substâncias nocivas à saúde: os desreguladores endócrinos. Atualmente, são conhecidos pelo menos 350 compostos presentes no meio ambiente e em utensílios, como os citados acima.
“Os desreguladores endócrinos são compostos químicos que podem afetar a função de nossos hormônios, predispondo ao aparecimento de diversos problemas de saúde. Entre eles, destacam-se estudos demonstrando associação com problemas no desenvolvimento neurológico, sistema reprodutivo e até mesmo alguns tipos de câncer como os de mama, útero, próstata e intestino grosso”, alerta Dra. Tânia Bachega, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo.
Um desregulador endócrino pode ter vários tipos de ações – dependendo do composto químico, ele terá diferentes atividades hormonais de acordo com o órgão. Muitos desreguladores têm atividade semelhante à do estrógeno, já que a molécula é muito parecida com a do hormônio feminino. Na população geral, os indivíduos mais suscetíveis à ação dos desreguladores endócrinos são os fetos, crianças com até dois anos e adolescentes, pois se encontram em fase de desenvolvimento de grande multiplicação celular.
Um exemplo de desregulador endócrino é o bisfenol A (BPA), uma substância presente no plástico que contém policarbonato e na resina epóxi dos enlatados. “Existem na literatura científica vários estudos com esse composto, que tem sido associado com alterações em nosso sistema reprodutivo, aumento do risco de obesidade, cânceres de mama e próstata, entre outros problemas de saúde. Muitos agrotóxicos também possuem atividade de desreguladores endócrinos, o que causa preocupações por estarem em contato direto com a cadeia alimentar. Esse Projeto de Lei (PL) 6299/02, que flexibiliza o controle e a aprovação de agrotóxicos no Brasil e concentra as decisões junto ao Ministério da Agricultura é motivo de grande preocupação para nós”, comenta Dra. Tânia.
Adicionalmente, estudos populacionais relacionaram a maior exposição ao BPA com o aumento da frequência de puberdade precoce e infertilidade masculina. Também há pesquisas que associam o BPA aos problemas com a glândula tireoide. Por exemplo, quem trabalha em polos petroquímicos possui mais nódulos de tireoide e maior incidência de hipotireoidismo.
Outras pesquisas já demonstraram que o acúmulo de bisfenol A no cérebro aumenta o risco de demência, perda de memória, alteração de coordenação e outras doenças degenerativas do sistema nervoso central.
A endocrinologista dá dicas para minimizar os impactos dos desreguladores.
– Na medida do possível, prefira os alimentos cultivados sem agrotóxicos;
– Evite comprar alimentos embalados em plásticos com policarbonato. A informação está no rótulo;
– Não coloque pote de plástico no micro-ondas, a menos que haja indicação do fabricante para isso, já que a alta temperatura pode liberar muito mais esses compostos químicos, contaminando o alimento;
– Não compre mamadeiras que não tenham selo do Inmetro. Desde 2011, os fabricantes brasileiros e de países como Estados Unidos, Canadá e Dinamarca estão proibidos de usar bisfenol A na produção de mamadeiras;
– Não compre a lata amassada, pois o verniz interno foi fraturado, o que faz liberar mais bisfenol A no alimento.
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